quarta-feira, 20 de março de 2013

PRAÇA DA MISÉRIA


Foto: Tilde Santos



A Praça do Campo Grande é o centro de uma abrangência de cultural, chamada inicialmente de Campo de São Pedro, a praça foi palco de conflitos, combates que sucederam pela Independência da Bahia. A praça, era cortada ao meio por um vale, e no final do séc. XIX, no governo de Rodrigue Lima, a praça foi modificada com monumentos trazidos da França, que é a atual configuração que apresenta, onde evoca os heróis que lutaram pela Independência da Bahia.

Em 1980, a praça novamente serve de palco para batalhas campais. Estudantes contestam o aumento das passagens de ônibus, que acabaram sendo reprimidos por tropas Militares a mando do então governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães (o ACM, como toda a Bahia conhece). A partir disso, a praça passa as ser um símbolo de reinvindicações populares, como a ocorrida 10 anos depois com a passeada do “Fora Collor” que tomou proporções gigantescas.

A praça ainda guarda árvores centenárias, e ainda permanece o seu ar bucólico de uma época. É o centro que liga bairros tidos como elitizados de Salvador, o Vale do Canela, o Canela,  a ligação com a Avenida Sete de Setembro, o chamado Corredor da Vitória e abrange colégios e centros culturais importantes, como o Teatro Villa Velha e o Teatro Castro Alvez, o TCA.
 

Foto: Tilde Santos


Foto: Tilde Santos
 
 
Foto: Tilde Santos


Bom, a Praça do Campo Grande e é para mim, assim como para muitas pessoas, um símbolo de abrangências e expressões artísticas, além da calmaria e cenário de encontros amistosos. Durante a faculdade tive encontros com amigos, ao violão e discussões estéticas, filosóficas, artísticas. Para muitas pessoas isso ainda acontece ainda que de forma grotesca, para outras ficam também apenas lembranças. O cenário mudou e a calmaria virou um grande descuido e perigo. A praça passou por reformas, e sofreu algumas modificações em prol de sua conservação, porém nos últimos 3 (três) anos o cenário mudou de bucólico para catastrófico, lamentável.


Foto: Tilde Santos
 
A Praça sendo feita de banheiro público. Perto do lago que não mais possui os peixes que tinha, todos morreram asfixiados por uma bactéria, SUJEIRA!!!
 
 
Um grande amigo ao fazeruma pesquisa para um trabalho de seu curso de psicologia construiu um texto a respeito de seu choque e lembranças da Praça em um contexto específico, assim como toda a cidade que parece estar falida em termos de cuidados. O que ele diz de uma forma poética. é a impressão da maioria das pessoas que não podem mais usufruir de um local com tantas representações e histórias em combinação com a vivência cotidiana do Centro Histórico de Salvador.


“Eu costumava reconhecer esse lugar antes mesmo que os meus olhos o pudessem fazer. Tanto pela brisa leve e pura oriunda das diversas árvores que existiam ao redor deste largo, quanto pelo gorjear do pequeno pardal que bailava e cirandava para lá e para cá com o vento que acariciava suas asas. Eu costumava sentar em um velho banco de madeira sob a sombra de uma dessas árvores frondosas do largo com um livro em mãos e me deliciava aos poucos com a paz que preenchia minha alma tal qual a plenitude de estar nos braços da pessoa amada. Eu costumava ver crianças a brincar no centro deste espaço arquitetônico com seus brinquedos, amigos e jogos de imaginação sob o olhar acalentador de seus pais. Meu olhar naquele momento era de desejo. Desejo de poder um dia acalentar meu filho com o mesmo olhar maravilhado, orgulhoso e sereno no meio dessa praça. Eu costumava vir até aqui ver os meus amigos, jogar uma entusiasmada partida de dominó, ouvir boa música no meu pequeno rádio à pilha, ver os velhinhos jogando pipoca aos pombos causando aquela revoada tão bela e elogiar num olhar as belas moças que passavam a caminhar por este lugar. Eu costumava ver a minha praça com alegria, costumava vê-la sem miséria, havia me acostumado a vislumbrá-la com aquela vontade de torná-la integrante de mim. O costume era ver estranhos cuidando deste lar público com o mesmo afago que eu expusera como agradecimento dos bons momentos tão meus que pude aqui viver. E não por coincidência o que desejo para esta praça é exatamente o mesmo que desejo para o amor. Cuidado, carinho e respeito de quem comigo viver.”

Foto: George Barbosa


Foto: George Barbosa


“Caribé não deve ter imaginado que suas grades tão exuberantes fariam parte da prisão sem muros que rodeia nossa cidade. A miséria. Que aprisiona o sonho de tantas famílias que em simples imagens já é capaz de chocar. Imagine-se a conversar com estas famílias. Terás uma idéia então do que é uma vida pobre de graças. O descaso com os patrimônios público, culturais e históricos andam paralelamente com o desdém que se faz do nosso povo. O retrato de uma praça não difere tanto da imagem de um hospital público. Pessoas ao chão, espaço com o aspecto pesado e quase escuro trazendo um “ar” de morte que deveria estar bem longe de tal lugar. A praça hoje tem mais víeis para movimentos de protestos do quê o lazer de fato. Nas poucas praças onde há manifestações artísticas os cidadãos deixam de ir por motivos da segurança falida de nossa cidade. Caos cultural. Praças em Salvador- Bahia, um retrato da desordem pública.”



 

Texto de Geo Barbo, pesquisador e estudante de Psicologia da Ruy Barbosa

Nem sentar, papear, levar nossas câmeras para fotografar, não podemos mais nos reunir com amigos para discutir a apresentar manifestações culturais e oferecer ao público cativo que lá transita, e simples tarefa de atravessar a Praça tornou-se um ato perigoso. O que antes era cultura e desfrute, agora virou medo, nojo e lamento social.
 
Foto: George Barbosa
 
 
Fica a pergunta, será que alguém ("Netinho") dará jeito?

 

 

 

 

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