Foto: Tilde Santos
A Praça do Campo Grande é o
centro de uma abrangência de cultural, chamada inicialmente de Campo de São
Pedro, a praça foi palco de conflitos, combates que sucederam pela Independência
da Bahia. A praça, era cortada ao meio por um vale, e no final do séc. XIX, no
governo de Rodrigue Lima, a praça foi modificada com monumentos trazidos da França,
que é a atual configuração que apresenta, onde evoca os heróis que lutaram pela
Independência da Bahia.
Em 1980, a praça novamente serve
de palco para batalhas campais. Estudantes contestam o aumento das passagens de
ônibus, que acabaram sendo reprimidos por tropas Militares a mando do então
governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães (o ACM, como toda a Bahia
conhece). A partir disso, a praça passa as ser um símbolo de reinvindicações
populares, como a ocorrida 10 anos depois com a passeada do “Fora Collor” que
tomou proporções gigantescas.
A praça ainda guarda árvores
centenárias, e ainda permanece o seu ar bucólico de uma época. É o centro que
liga bairros tidos como elitizados de Salvador, o Vale do Canela, o Canela, a ligação com a Avenida Sete de Setembro, o
chamado Corredor da Vitória e abrange colégios e centros culturais importantes,
como o Teatro Villa Velha e o Teatro Castro Alvez, o TCA.
Foto: Tilde Santos
Foto: Tilde Santos
Foto: Tilde Santos
Bom, a Praça do Campo Grande e é
para mim, assim como para muitas pessoas, um símbolo de abrangências e
expressões artísticas, além da calmaria e cenário de encontros amistosos. Durante
a faculdade tive encontros com amigos, ao violão e discussões estéticas,
filosóficas, artísticas. Para muitas pessoas isso ainda acontece ainda que de
forma grotesca, para outras ficam também apenas lembranças. O cenário mudou e a
calmaria virou um grande descuido e perigo. A praça passou por reformas, e
sofreu algumas modificações em prol de sua conservação, porém nos últimos 3
(três) anos o cenário mudou de bucólico para catastrófico, lamentável.
Foto: Tilde Santos
Um grande amigo ao fazeruma pesquisa para um trabalho de seu curso de psicologia construiu um texto a respeito de seu choque e lembranças da Praça em um contexto específico, assim como toda a cidade que parece estar falida em termos de cuidados. O que ele diz de uma forma poética. é a impressão da maioria das pessoas que não podem mais usufruir de um local com tantas representações e histórias em combinação com a vivência cotidiana do Centro Histórico de Salvador.
“Eu costumava reconhecer esse
lugar antes mesmo que os meus olhos o pudessem fazer. Tanto pela brisa leve e
pura oriunda das diversas árvores que existiam ao redor deste largo, quanto
pelo gorjear do pequeno pardal que bailava e cirandava para lá e para cá com o
vento que acariciava suas asas. Eu costumava sentar em um velho banco de
madeira sob a sombra de uma dessas árvores frondosas do largo com um livro em
mãos e me deliciava aos poucos com a paz que preenchia minha alma tal qual a
plenitude de estar nos braços da pessoa amada. Eu costumava ver crianças a
brincar no centro deste espaço arquitetônico com seus brinquedos, amigos e
jogos de imaginação sob o olhar acalentador de seus pais. Meu olhar naquele
momento era de desejo. Desejo de poder um dia acalentar meu filho com o mesmo
olhar maravilhado, orgulhoso e sereno no meio dessa praça. Eu costumava vir até
aqui ver os meus amigos, jogar uma entusiasmada partida de dominó, ouvir boa
música no meu pequeno rádio à pilha, ver os velhinhos jogando pipoca aos pombos
causando aquela revoada tão bela e elogiar num olhar as belas moças que
passavam a caminhar por este lugar. Eu costumava ver a minha praça com alegria,
costumava vê-la sem miséria, havia me acostumado a vislumbrá-la com aquela
vontade de torná-la integrante de mim. O costume era ver estranhos cuidando
deste lar público com o mesmo afago que eu expusera como agradecimento dos bons
momentos tão meus que pude aqui viver. E não por coincidência o que desejo para
esta praça é exatamente o mesmo que desejo para o amor. Cuidado, carinho e
respeito de quem comigo viver.”
Foto: George Barbosa
Foto: George Barbosa
“Caribé não deve ter imaginado
que suas grades tão exuberantes fariam parte da prisão sem muros que rodeia
nossa cidade. A miséria. Que aprisiona o sonho de tantas famílias que em
simples imagens já é capaz de chocar. Imagine-se a conversar com estas
famílias. Terás uma idéia então do que é uma vida pobre de graças. O descaso
com os patrimônios público, culturais e históricos andam paralelamente com o
desdém que se faz do nosso povo. O retrato de uma praça não difere tanto da
imagem de um hospital público. Pessoas ao chão, espaço com o aspecto pesado e
quase escuro trazendo um “ar” de morte que deveria estar bem longe de tal
lugar. A praça hoje tem mais víeis para movimentos de protestos do quê o lazer
de fato. Nas poucas praças onde há manifestações artísticas os cidadãos deixam
de ir por motivos da segurança falida de nossa cidade. Caos cultural. Praças em
Salvador- Bahia, um retrato da desordem pública.”
Nem sentar, papear,
levar nossas câmeras para fotografar, não podemos mais nos reunir com amigos para
discutir a apresentar manifestações culturais e oferecer ao público cativo que
lá transita, e simples tarefa de atravessar a Praça tornou-se um ato perigoso. O
que antes era cultura e desfrute, agora virou medo, nojo e lamento social.
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