Minha indicação literária para quem deve e precisa entender as mudanças comportamentais nos relacionamentos, convivências e buscas na contemporaneidade, é o livro "Amor Líquido". O autor é o Sociólogo Zigmunt Bauman. Em uma das minhas pesquisas encontrei esse texto de Roque Carvalho que, explica resumidamente a ocorrência de mecanismo dessas novas relações abordadas no livro de Bauman.
"O polonês e sociólogo Zigmunt
Bauman, autor de Sociedade Liquida, é também o autor do livro 'Amor
Líquido' - Sobre a Fragilidade das Relações Humanas" (Rio de Janeiro: Jorge
ZAHAR Editor, 2003) de onde tirei os conceitos e extraí citações para estas
reflexões.
Zigmunt Bauman
A teoria de Bauman é que vivemos
um momento em nossa sociedade de que o que é sólido precisa ser tornado liquido
para ser digerido. Como temos uma sociedade imediatista, tudo que não se ajusta
ao uso instantâneo nem permite que se ponha fim ao esforço, deve ser
liquefeito.
A tirania do mercado explica em
parte esta característica rarefeita de tudo. Estamos na era do homo consumens .
O que caracteriza o consumismo não é acumular bens (quem o faz deve também
estar preparado para suportar malas pesadas e casas atulhadas), mas usá-los e
descartá-los em seguida a fim de abrir espaço para outros bens e usos. Estar
excluído da sociedade de consumo equivale a ser um fracassado, um incompetente.
Um consumidor falho fica se utilizando dos mesmos bens, e a utilização repetida
o priva da possibilidade de sensações novas e inéditas. Isso os leva ao tédio e
à frustração. Ser bem sucedido é conviver com novidades, variedades, e
rotatividade.
Entediamos que o relacionamento
entre duas pessoas era o de viver juntos e envelhecer juntos, mas foi
substituído por ficar juntos. A convivência foi substituída pelos encontros
episódicos. O casamento foi substituído pela sucessão de romances com sexo. O
divórcio foi substituído pelos CSS – casais semi separados. As amizades foram
substituídas pelas salas de chat e as redes, onde se pode conectar e desconectar
sem qualquer compromisso, promovendo relações fantasiosas ou profundas
protegidas pelo anonimato. Ralph Waldo Emerson acertou ao afirmar que 'quando
se é traído pela qualidade, tende-se a buscar desforra na quantidade'.
Daí surge à cultura do aluguel e
do descartável (e por isso mesmo mais barato). Nesta sociedade líquida, você
não compra, aluga. Comprar implica posse e permanência. Alugar implica
rotatividade sem ônus. O descartável pode ser facilmente substituído sem muito
prejuízo: vale a relação custo benefício, ou tempo de benefício. No mercado,
tudo está ao alcance do cartão de crédito, e a distância entre o desejo e sua
satisfação está cada vez mais curta. E, portanto, o descarte cada vez mais
rápido.
A experiência sexual e relacional
segue o mesmo padrão e raciocínio. Seu parceiro pode abandonar você a qualquer
momento, sem o seu consentimento. Pior é para quem é abandonado, rejeitado. A sensação
de que se pode ser abandonado, substituído a qualquer momento impede a entrega
total, e porque não se entrega totalmente, o amante parcial vive com a constante
sensação de que está vivendo um equívoco, ou que está esquecendo algo, ou
deixando de experimentar alguma coisa.
Esse é um quadro lamentável de
nossa sociedade, que esqueceu o amor como compromisso, cumplicidade, parceria,
respeito, encantamento, descobrimento e amadurecimento entre duas pessoas. O
amor não é apenas um caminho de satisfação, mas de transformação e realização.
Creio que para um amor sólido, coerente durável, quando o relacionamento não
estiver satisfatório, não é o de mudar de parceiro ou parceira, mas mudar o
relacionamento, ceder, reconhecer erros. O grande problema, é que mudar implica
admitir erros, se expor, abrir o coração, reconhecer que nem sempre se está
certo.
A nossa sociedade vive iludida,
carecendo de gente que viva relacionamentos de "amor sólido" para que
conheça a verdade e seja liberta de sua ilusão."
Pr. Roque Carvalho
Para mim, fica claro que essas relações imediatas não se atêm apenas ao advento da internet, e sim às vivências por completo, tendo ênfase, claro, nessa nova modalidade de busca, a internet que, se reforça mais livre de qualquer "prisão" aparente. Em um dos meus trabalhos artísticos ("IMPESSOAIS") eu buscava o entendimento dessas relações, isso ainda me interessa diretamente (profissional e peossoalmente), e dentro de minha linha de pesquisa o que pondera são as buscas mais profundas que, deduzo acabarem em superficialidades pela falta de tolerância e entendimento. Na verdade, as buscas de fato.
Parece que a vida tornou-se uma eterna busca pelo outro onde se encontra apenas insatisfação, as pessoas buscam a perfeição sem entender que as relações são construções, edificações demoradas. A contemporaneidade trás consigo seguidores frustrados e curtidores anestesiados, e o que se compartilha... Momentos, apenas momentos!
Para quem quiser ler um pouco mais, clique aqui!
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