quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

DAS MINHAS ÀS SUAS CONVENÇÕES - O nosso tempo.




A, de flores deveria viver o homem. Mas não é bem assim...
Creio que esse início de milênio seja de libertação, em todos os sentidos, parece que todos os tipos de prisões estão sendo abertas e tantas outras subvertidas. Os conceitos formados caem cotidianamente por terra e as opiniões se fortalecem e unificam, por um lado se desmontam e se perdem por outro. Onde nada mais se cria, a reinvenção toma conta das manifestações de todos os tipos, as sociais, as artístico-culturais, as pessoais...

Certamente as pessoas tem notado o quanto de habitantes no mesmo rumo estão ao seu lado, ficar só virou privilégio de poucos, porém, sentir-se só, é quase como um corriqueiro sentimento humano. Temos mais habitantes no mundo e com isso as sensações, as conceituações, manifestações humanas e tudo mais também tornaram-se múltiplas, amplas numericamente e abrangentes geograficamente. Ainda assim, não podemos esquecer que estamos mais individualistas.

Tudo mudou, tudo está diferente para aqueles que viveram outras décadas e tudo parece pedir resgate, para os que acompanham os novos tempos e que são filhos dele, esse choque de períodos – MODERNIDADE, PÓS-MODERNIDADE, PRÉ-CONTEMPORANEIDADE – CONTEMPORANEIDADE –  ainda existente em uma mescla confusa, só que mais amenos impõem e uma maior reflexão dos acontecimentos em tempo real. Somos contemporâneos de nós mesmos e não há nada mais confuso do que uma análise em tempo real, ainda quando não se digeriu todas as fervuras de um tempo que é mais do que mera cronologia.
Bom, indo à parte prática, o que mais me chama atenção são as manifestações -  que ao meu ver, demoraram muito para acontecer - das classes que sempre foram dominantes em quantidade e subjugadas ou oprimidas pelas classes menores em quantidade numérica, ainda que maior em domínio econômico social e político. Vemos claramente que, essa massa maior que estabilizava de forma cômoda os topos piramidais está se movendo, ainda que de forma desorganizada, sem rumo definido. Sim, ela se move. É como arrancar uma raiz fincada por séculos de opressão em uma terra seca por baixo e adubada por cima, com frutos e folhas que contemplam apenas uma parte em direção ao tronco – os médios de ligação entre a grande raiz e os galhos bem nutridos e mamados.

Imagine então, essa raiz ganhando força, se desligando da terra seca que a prende e se movendo – ainda desnorteada, sem direção certa, mas om objetividade - os frutos e folhas se soltando e deixando os galhos descobertos, o tronco dividido entre o peso de pêndulo superior e minoritário e a, agora, forte raiz com poder de mobilidade, deslocando-se lenta e pesadamente, mas com um grande “pisão” de significados. Lindo de ver, não? Há quem ache penoso, eu não. Bom, é assim que eu vejo a nossa atual sociedade, as nossas atuais manifestações, políticas, sociais, culturais, e no frigir dos ovos, antropológicas!

Acho lindo o negro se impor e dizer a toda uma sociedade (de grande maioria negra) que ele é capaz, que é tão forte quando a herança de sua origem, que é tão inteligente quanto qualquer um de qualquer cor e que sua pele nada difere das outras, além de, tão merecedora de todos os ganhos e perdas como qualquer outra. Lindo é ver uma pessoa com padrões desconstruídos se afirmar como uma identidade própria, cheio de alto-estima e amor próprio, o mesmo acontece com a sexualidade afirmada e diferente do costumeiro de uma sociedade culturalmente machista, assim como ver a ascensão feminina e sua liberdade profissional, social e sexual mais assegurada – pelas próprias mulheres.  A organização de quem está na linha econômica menos favorecida e que lutar por uma situação melhor e mais digna, é de orgulhar pela capacidade de superação de um povo que é massacrado cotidianamente em muitos aspectos. Dizer a uma sociedade inteira que você é o que é e que não precisa mudar não é o “x” da questão, afirmar-se para sí mesmo e quebrar seus próprios conceitos que lhe foram impostos ao longo de sua criação e formação intelectual é o que vão definir a sua liberdade de expressão e o seu caráter. Caráter esse que vai definir não são a sua própria aceitação como a aceitação do outro, a forma como se pode receber o seu diferencial e diferente não é a mesma forma de receber o do outro.

Quando falo de raízes fortes fincadas em uma terra seca por fora e adubada fria e calculadamente por cima, é disso que falo. As formas de expressão de um povo vazem parte de uma gama de tendências que ao longo do tempo se findam em conceitos culturais, mas tais demandas podem mudar individualmente, o efeito boiada pode se desfazer aos poucos e particularmente (individualmente) primeiro, sendo mais abrangente depois, aos poucos. É sobre isso que falo, das mudanças. É isso o que noto. O nosso tempo tem se entendido, todos estamos nos esforçando para entendermos a nós mesmos, e aos acontecimentos ao redor, ao outro, ainda que esse movimento venha de forma genérica em algum momento, vejo como a melhor fase da humanidade daqui a algum tempo. Claro que isso não eliminará os males do mundo, tantas outras situações surgem de novas mudanças, e elas já existem.

Somos mais depressivos, desenvolvemos mais síndromes, talhamos mais situações a fim de um maior entendimento e por isso as confusões psíquicas são mais aparentes, desdobramos situações, fazemos confusão sobre esse entendimento, até que ele se encaixe... Aaaaah, tudo mudou e ainda continuamos os mesmos.


Às velhas buscas, só que agora, com mais intensidade. Ao nosso tempo!


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