Fui dormir ontem com a sensação
de que o mundo acabaria nessa manhã. Juro que, eu sempre tão otimista, me
perguntei se realmente as coisas fazem sentido. Quais “coisas”? ah! Essas todas,
todas elas, tudo o que vem acontecendo, as grandes novidades. Há sempre uma
novidade no terrorismo, nas técnicas dos assaltos, nos desentendimentos no
trânsito, no surgimento de novas tipologias de serial killers sociais, de babás
que matam quando deveriam cuidar... Enfim!
Não cabemos mais no mesmo espaço,
o mundo está realmente apertado e a tendência é piorar, não sabemos mais lidar
uns com os outros nessa superlotação e o que nos resta é sobreviver. Eu não sei
se vou concluir de boa forma esse pensamento, mas realmente amanhecer hoje não mudou
ainda a minha sensação de que tudo irá explodir.
Parece que estamos em uma grande
gaiola, aliás, uma grande penitenciária, com suas regras hierárquicas, seus
comandantes egocêntricos ligados diretamente à bandidagem, os pobres moribundos
em sua maioria que se despem de seu próprio ser para sua sobrevivência, a
corrupção de quem deveria ser o cuidador e se corrompe tanto quanto ou mais do
que os que foram penalizados. Todos condenados perante as próprias justiças e
injustiças, fadados ao ilícito e cômodo comportamento coletivo do bom e velho “jeitinho”,
ou ao grotesco “sai da frente, aqui quem manda sou eu”.
E na ordem dos comandos hierárquicos
estão os chefes (políticos) das facções, os grandes representantes nas cadeias e
seu poderil que, visa sempre mais, com vocações territorialistas. Aqueles que,
comem bem, tem regalias, e dormem com suas esposas, pois, voltam para suas
casas ao cair da noite como se a cadeia fosse seu local de trabalho. Quanto aos
presos do meio, os no meio da hierarquia, a esses fica mesmo o intermédio entre
o querer sair da atual condição sem voltar ao passado, e o querer ascender ou
quem sabe ocupar o lugar de seu chefe no comando. Aos da ponta, a grande
maioria (como sempre), bem, a esses ficam reservadas as batucas de cigarro, as
dívidas alheias, os crimes mais “chulés” e os serviços mais pesados. São os
primeiros a morrer!
Quando as rebeliões acontecem e
os grandes chefes resolvem ganhar espaço, expandir seus negócios, aplicar na “bolsa
do crime”, na linha de frente, com seus colchões prestes a arder chamuscados,
os de base na linha da hierarquia no sistema prisional. Cantam satisfeitos por
defenderem seus líderes, com o sentimento de que estão organizados e de que
tudo pode mudar, avançam mesmo que seus medos os façam paralisar na MARCHA PARA
OS CASSETETES DOS DIREITOS HUMANOS!
De cima, quem avista no comando
sorri, na verdade, gargalha como quem constata o jogo de manobras psicológicas
a que submete aqueles que sempre tiveram a vontade de se regenerar e sair da
cadeia, aos bons comportamentos até que usados como escudos humanos e passaram
a se condenar de verdade, geralmente à morte.
Ah! E esses mesmos de base, geralmente
são presos condenados por crimes menores, mas devido do sistema carcerário tão
pautado na diversidade (ironia cruel), foram obrigados a conviver em uma sela
onde deveriam “morar” 8 e moram 60 e misturados a grandes (pelos seus feitos
mais horrendos) criminosos do crime. É a luta da convivência diária.
No presídio, o único momento em
que as coisas parecerão mais justas, será no momento do “banho de Sol”. Onde todos
sentirão saudade de casa, todos se julgarão menos “bandidos” do que um dia foi
considerado ou se tornaram, e a hierarquia parecerá menos injusta. No pátio também tem muita morte, sabe? Mas
tem o Sol, e isso muda tudo.
Voltando às regras de convivência
do “Grande Carandiru” (Mundo), as hierarquias continuam valendo, e as penas
serão cumpridas. E ainda que, quem deveria ficar mais tempo saia mais
rapidamente que o previsto, e quem deveria ficar pouco, permaneça por um tempo
suficiente para se tornar outra pessoa.
E no resumo da obra de um
Cineasta maior que, filma um longa sem texto definido ou ações programadas.
Há quem espere a liberdade e por
ter se corrompido saia do sistema ainda mais confuso e violento, com sede de
causar ao resto (que ficou de fora) o mesmo que lhe foi causado. Há também quem
saia com a sensação de que precisa mudar e deixar o passado para trás, mesmo que
tenha vivido “dias de cão” e que até as mãos de sangue sujou um para defender a
própria vida, e é nesses que uma coisa melhor fica. Parece que a lembrança do
Sol os fez refletir, entender de que por mais que a superlotação e aglomeração,
além das hierarquias injustas promovam benefícios específicos para pessoas
específicas na cadeia, ainda assim, as revoluções podem e devem acontecer. Vai
ver é por isso que o dia é mais longo que a noite.
Aos que, de fora do Grande
Carandiru ficam, a impressão é de que, são anjos e demônios com linhas de
comando para marionetes. Mais uma prova aos que saem do grande sistema ao cruzam
o portão de ferro.
Vai saber, parece mesmo uma
grande ficção!
Imagem - WEB
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