A um tempinho atrás eu critiquei
(no facebook) a música do Leke lek lek e a postura de quem estava
postando uma música que, ao meu ver era inconsistente e vazia culturalmente que, não trazia informação construtiva. Me disseram que era música pra
balançar (coisa que eu concordo) e que eu deveria deixar passar. Ainda assim eu
retruquei a respeito da diferença de uma música bem letrada e construtiva como manifestação cultural que realmente diga alguma coisa.
No início do mês eu li uma
reportagem da Folha de São Paulo que dizia que duas produtoras estavam lutando
pelo direito de usar as músicas e o grupo dos meninos cariocas que estouraram
com o Leke lek lek, já que duas grandes companhias queriam usar em seus comerciais a música. Eu entendi uma situação social e também econômica por trás de
algo que me irritava (por mera arrogância de minha parte em achar que possuo
critérios suficientes para julgar a manifestação da arte de alguém, ainda que
não me agrade, coisa que eu não sou de fazer, mas caí no erro e fiz), e que agora eu entendo
tanto o fenômeno da música estourar,
quanto o pedido de relaxamento em um julgamento severo e tenso de minha
parte.
Minha postura geralmente não é de
julgar comportamentos ou manifestações artísticas a não ser que ela venha
pautada da falta de ética, de humanidade ou injustiça, mas eu julguei por
achismos e agora digo que, minha opinião é contrária a que defendi
anteriormente e vou dizer os motivos.
A mais ou menos 2 meses atrás eu
vi uma mãe com seu filho ainda de colo em uma roda de pagode, isso acontece
muito e creio que seja inadequado para crianças essa e tantas outras situações
como acontece nos bailes de Funk carioca. Além do tratamento referido a nós mulheres nas letras dos
pagodes baianos. Tudo isso me faz querer as coisas de maneira diferentes, menos agressivas
e depreciativas. Porém, realizo para um fato, o cultural, o das manifestações
naturais de acontecimentos no cotidiano das pessoas que, ao longo do tempo, torna-se a cultura de um povo. Aliás, independente do tempo, é cultura e negar
isso é também negar boa parte da população (a maior parte dela na verdade) brasileira. Isso me fez reflatir mais a respeito dessas manifestações populares, e como
eu estava dizendo acima, ler a matéria da Folha me fez refletir a respeito do
alcance da música desses garotos (que não possui letra instrutiva, mas que
também não degrada), ver a disputa pela música (nota-se claramente o interesse
pelo dinheiro - os interesseiros partirão de todas as áreas e disputas como
essas vão acontecer sempre) dos garotos que possivelmente poderão ter - agora - melhor instrução para produzir sua arte e que provavelmente ajudar suas
famílias, amigos e possivelmente até a sua comunidade. Isso me fez perceber que
eu e nem ninguém pode julgar algo que não se conheça a fundo, que não se pode
ter preconceitos - coisa básica -com o que não causa um malefício de fato ainda que não traga
uma construção a olhos vistos ou “ouvidos escutados”.
Outro fato que me fez refletir
foi, ler uma carta-resposta da estudante Mariana Gomes direcionada à repórter Rachel
Sheherazade do SBT (e que eu partilho de sua opinião em muitos assuntos), que se popularizou
por suas críticas centradas, coerentes, “classudas” e ferinas na maioria das vezes. Com muito humor ela responde a uma
crítica dura feita pela reportar que, sem fundamento destila sua opinião em
relação à Dissertação que defendeu a estudante, que leva o seguinte título: “My pussy é o poder”. Eu não sei o conteúdo da Dissertação, não
posso falar mais a respeito, mas o assunto de fato não é esse, e sim o do
prévio julgamento de um mundo que não conhecemos de fato e por compararmos ao
nosso acabamos sendo injustos. Pude perceber que há um erro recorrente em quem tenta se posicionar sempre em relação aos acontecimentos de uma sociedade em geral. Caímos no erro do próprio erro, simples. Julgar
para se ter o que falar já que a postura é de ter sempre uma opinião por
acharmos que sabemos tudo, ou por termos realmente que responder sempre a
perguntas que, muitas vezes (na maioria delas) nem sabemos as respostas. Ou por
ignorância simples mesmo, por desconhecermos fatos relevantes do lado oposto ao que
conhecemos/ que não deveria ser o caso, nem o dela, nem o meu.
Fui a muitos shows de pagode já
com irmãs e amigas (NÃOOO SOUUU TÃOOO SÉRIA OU CARETA ASSIIIIIM - não mesmo), mas não gosto das
letras, não sou de dançar até o chão, mas acredito no ritmo rico que possui. No
funk tem aquele ritmo das batidas, eu creio que haja um exagero nos volumes e
gritos, também não gosto das letras, arrocha e músicas bregas não fazem meu
estilo, eu realmente não curto muito o "apelo" popular, mas eu sei que fará o de muitas pessoas que curtem uma “dor de corno”
escutando cláaaaaaassicos da música que realmente ouve é quem gosta tem costume
de escutar. Isso não me faz especial, ou melhor, nem faz quem escuta, ter um gosto
menos apurado ou ser mais rico cultural e intelectualmente, já que da cultura
popular só entende mesmo quem vive e muitas vezes a vivência FALA MAIS de que o
academicismo ou o mundinho que muitas vezes vivemos.
Fica aqui a minha retratação em
relação ao Leleke lek lek e digo que não se tratou de julgamento por origens e
sim por um desejo (por achar que a
música não referida não possui esse papel) de querer ver a cultura chegar a quem
não tem o direito à educação de qualidade e a se manifestar de forma construtiva,
sem negar a vivência que cada um possui.
Ps.: O motivo maior da minha retratação foi escutar minha mãe cantarolando o Leleke lek lek. Bom, se até a minha mãe (sempre tão sábia) mostra-se abrangente e receptiva ao apelo popular... (Zuando, mas foi verdade!)
Eu mudei minha opinião depois de muito ler, escutar e me atentar para fatos. Ter pontos de vista próprios é importante, mas saber reconhecer um erro de julgamento é ter tolerância e creio que relatar isso seja exemplo de como podemos procurar compreender a diversidade que nos cerca e fazer isso sem culpa.
Sigo tentando aprender e fazendo a minha parte... Aaaaaa Leleke lek lek lek lek, aaaaaaaaaaah...
E para completar o post, eu recebi essa semana de um grande amigo o link de uma paródia do Leleke lek lek que me fez quase “estourar” de tanto rir. Repassando, boa gargalhada!!!
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